COMO OS ESTIMULANTES IMPACTAM A PERFORMANCE E SAÚDE DO CÉREBRO
A difícil tarefa de melhorar nossa performance cognitiva
O cérebro é um órgão incrível e que gera curiosidade e admiração por todas as pessoas que tentam entendê-lo um pouco melhor. É claro que existe uma capacidade gigantesca no funcionamento dessa estrutura orgânica que gerou, por exemplo, os dribles do Messi; a condução do carro de Fórmula 1 na chuva do Ayrton Senna; e a música Lucy in the sky with diamonds dos Beatles. Mas, devido a sua complexidade, o cérebro também é extremamente sensível ao desequilíbrio.
O cérebro precisa receber oxigênio e glicose para manter os neurônios fazendo suas funções principais: adquirir, processar e transmitir informações. Nós temos cerca de 80 bilhões de neurônios. Alguns deles estão conectados a dezenas de milhares de outros neurônios. Ao todo, temos mais conexões entre os neurônios do nosso cérebro do que estrelas na Via Láctea. E como essas conexões funcionam?
O local onde um neurônio se comunica com o outro é chamado de SINAPSE. Na maior parte das sinapses, um neurônio libera moléculas e o outro neurônio as recebe. Essas moléculas são chamadas de neurotransmissores.
NOOTRÓPICOS
Existem diferentes tipos de neurotransmissores com funções variadas. Por exemplo, o glutamato faz com que um neurônio diga para o outro: passe a informação adiante. Enquanto o GABA tem o papel de inibir a neurotransmissão. Além desses dois, cada vez mais pessoas conhecem neurotransmissores como: dopamina, serotonina e noradrenalina. Isso porque esses neurotransmissores fazem parte de remédios associados à depressão, ansiedade, TDAH, comportamento obsessivo compulsivo e muitas outras disfunções cognitivas e emocionais. E também porque muitas pessoas usam substâncias que manipulam a liberação desses neurotransmissores na tentativa de "melhorar" o cérebro. Essas substâncias, chamadas de nootrópicos, teriam como objetivo, por exemplo: melhorar a memória, melhorar a atenção, a velocidade e a precisão das decisões e a facilidade para aprender coisas novas.
Em universidades americanas, 20 a 25% dos alunos saudáveis fazem uso de remédios para TDAH (como o Adderall e a Ritalina) antes das provas. A Liga de Esportes Eletrônicos implementou proibições mais rígidas em resposta a declarações como a do campeão Kory Friesen em um vídeo no YouTube, onde ele afirmou que todos os jogadores estavam usando Adderall1. Mais recentemente, o ex-diretor da Agência Mundial Antidoping, David Howman, descreveu os esportes eletrônicos como um verdadeiro "oeste selvagem" do doping2.
No entanto, estudos indicam que se você tem uma baixa performance da atenção (ainda que dentro do espectro saudável), esses medicamentos podem melhorar alguns processos atencionais. Mas, se você já tem uma performance elevada, os remédios podem não fazer efeito ou até mesmo piorar sua cognição.
A maior parte das estruturas que conhecemos funcionam seguindo funções com o padrão de “U-invertido”. Ou seja, pegue a letra “U” e vire de ponta-cabeça. Vou começar com um exemplo simples. Pegue uma comida salgada que você adora, mas que ainda não adicionou o sal. Adicione pouco sal a ela, e o gosto não é realçado. Continue adicionando sal, e o gosto da comida vai sendo realçado. Adicione muito sal, e o gosto da comida deixa de ser realçado, porque agora ela está salgada demais. Isso é uma função U de cabeça para baixo em relação ao sabor da comida e a quantidade de sal. Pouco sal: pouco sabor. Quantidade ideal de sal: o máximo do sabor. Muito sal: pouco sabor novamente.
O efeito de substâncias no cérebro é similar. Pouca cafeína: nenhum efeito na atenção e na memória. Quantidade ideal de cafeína: efeito ótimo sobre a cognição. Muita cafeína: aumento de decisões impulsivas, diminuição da concentração e aumento da hiperatividade.
REMÉDIOS PARA TDAH, PARA DISTÚRBIOS DE SONO E A CAFEÍNA
A questão principal é que, como dissemos no início, o sistema nervoso é complexo e extremamente sensível. Isso faz com que a tarefa de determinar quantidades ideais de substâncias químicas para aumentar a performance seja realmente difícil. Assim como é difícil controlar os efeitos dessas substâncias a médio e longo-prazo.
Dessa forma, fique atento ao consumo de estimulantes, como:
- Remédios para TDAH como: Ritalina, Adderall, Concerta, Rubifen, Vyvanse, Anfetaminas e Focalin, que influenciam principalmente o sistema dopaminérgico;
- Cafeína, que influencia a produção de adenosina e o sistema noradrenérgico;
- Remédios para o tratamento de distúrbios do sono, como o Modafinil, que também age prioritariamente no sistema dopaminérgico.
Isso porque, uma vez que é difícil determinar a concentração ótima para o consumo desses estimulantes (lembrando que para algumas pessoas, a concentração ótima é zero, já que os efeitos podem ser negativos), o consumo por pessoas saudáveis acaba sendo, no mínimo, contraditório.
ESTIMULANTES E “DESESTIMULANTES”
O consumo de estimulantes por um cérebro saudável modifica o equilíbrio sensível dos neurotransmissores. Como resultado, muitas vezes o consumo de estimulantes acaba sendo associado ao consumo de remédios para indução do sono, principalmente:
- Benzodiazepínicos como: Diazepam, Lorazepam, Alprazolam;
- E uma classe de drogas chamada de Drogas-Z, como: Zolpidem, Eszopiclone, Zaleplon.
Ao final, o usuário de estimulantes pode acabar em ciclos de utilização de drogas que buscam retirar e retomar o equilíbrio do cérebro, mas que acabam desorganizando cada vez mais os sistemas de neurotransmissão. Muitas pessoas que consomem muito café, por exemplo, desorganizam a arquitetura do sono e deixam de passar o tempo adequado nos diferentes ciclos do sono, o que dificulta a consolidação de memórias e, consequentemente, o aprendizado.
Vamos ver rapidamente como isso acontece nas sinapses. Como dissemos, nas sinapses um neurônio libera neurotransmissores e o outro neurônio os recebe. Em um funcionamento saudável, a quantidade de neurotransmissores liberados por um neurônio está em equilíbrio com a quantidade de receptores no outro neurônio. Quando ingerimos um remédio que aumenta a liberação dos neurotransmissores, a informação que ele passa será ampliada. MAS, quando liberamos uma quantidade muito maior de neurotransmissores, o efeito é como se alguém falasse com você com um megafone ao lado do seu ouvido. O barulho é tão alto que paramos de ouvir a informação.
Além disso, o cérebro tenta retomar o equilíbrio. Com uma quantidade muito maior de neurotransmissores disponíveis, o neurônio que recebe a informação pode diminuir o número de receptores para esses neurotransmissores. Dessa forma, quando não estamos ingerindo o remédio, a quantidade normal de neurotransmissores tem seu efeito diminuído. Em resumo, quando um cérebro saudável consome estimulantes, o efeito pode ser pequeno ou haver piora no curto-prazo, e é provável que haja um desequilíbrio no médio e longo-prazo.
Para cérebros que não estão em um estado saudável, como em pessoas que estão com depressão ou que têm de fato TDAH, uma parte do acompanhamento médico é destinada a entender o tipo e as concentrações dos remédios utilizados para tratar a condição. Apesar da depressão e do TDAH serem tão orgânicas como a diabetes, a complexidade e a sensibilidade do sistema nervoso tornam difícil até mesmo o trabalho de pessoas que estudam e tratam dessas condições diariamente. Por exemplo, muitos remédios para a depressão resultam em uma piora no quadro depressivo nas primeiras semanas, com o sucesso do tratamento apenas após este período de agravamento.
EM BUSCA DE SAÚDE E PERFORMANCE
Ao final, Lucy in the Sky with Diamonds, que faz referência ao LSD, nunca teria sido criada sem este psicoativo. Por outro lado, os Beatles não estavam em busca das mesmas coisas que a maioria de nós busca no dia-a-dia profissional. Isso não quer dizer que nós não conseguimos desenvolver capacidades como: atenção sustentada, memória de trabalho, velocidade das decisões, controle de impulsividade e outras. É possível desenvolver o CÉREBRO porque ele é PLÁSTICO, ou seja, nós criamos novos neurônios e, principalmente, novas conexões entre os neurônios até o final das nossas vidas, assim como mudamos as conexões existentes.
O Sensorial Moove é uma maneira de desenvolver essas capacidades e aumentar a PERFORMANCE E A SAÚDE cognitiva, utilizando as principais tarefas de estimulação cognitiva com o movimento. Neste contexto, os movimentos criam um ambiente ainda mais plástico no sistema nervoso e a estimulação cognitiva direciona as mudanças nas sinapses para melhorar as capacidades do cérebro.
Referências
- Gilbert, B. (2015). Here's why Adderall is taking over the world of professional gaming.
- Baldwin, A. (2019) Targeted doping tests having an impact in esports, says Verroken
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